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UMA HISTÓRIA DE TERROR | O N A S C I D O D E A B R I L D E 2 0 2 2

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21042022
UMA HISTÓRIA DE TERROR | O N A S C I D O D E A B R I L D E 2 0 2 2

Nasceu numa manhã de Abril, retirado com força bruta das entranhas da Terra, seu choro foi ouvido por uma longa fila de ouvidos carnívoros, enquanto o fórceps, como um ferro martirizado, se alongava pelas entranhas que o acomodava, como tentáculos de um polvo monstruoso procurando por toda a extensão do seu corpo, para um abraço estrangulador e melancólico, por toda uma vida. As gerações futuras o entenderão com a nitidez da água de um ribeirão, nada de fogos, nada de festas e nada de congratulações, apenas, a luz da saída para um mundo desconhecido, envolvia sua cabeça, como um elmo, a marca corrosiva da longevidade da dor que o embalava numa música, uma canção de ninar, um acalanto da progenitora, em contraponto à resistência do ato natimorto da cria.

Ele, assim, veio, e em sua cabeça, não havia coroa, nenhum déspota irradiava em seus pensamentos, nem mesmo anéis vestiam suas pequenas mãos no começo do abril sombrio, a proveta era falsa, foi concebido de forma natural. O feto era devastado pelo bem e o mal, uma semente foi lançada na terra vermelha, um galo, na manhã mormacenta, soltava um canto inominável como um pranto, mas era mais forte o canto do que o choro, mais forte é o clamor bárbaro de quem vem ao mundo por justiça, e não por consolo, era o caso do feto devastado, que desde à essência de seu nascimento era acometido pela marca do sofrimento, aquele, cujo caminho nunca foi pavimentado, era moldado por meio de uma facão que abria a trilha no meio do mato, estrangulando a seiva com o punho fechado.

O instrumento cirúrgico, ensanguentado, fez muitas marcas no crânio do pequeno corpo prostrado, a cabeça, que nasceu redonda como uma laranja, depois de ganhar a luz da manhã, irradiada pelo sol que vinha lá de fora e ultrapassava o vidro da janela, mostrou as regularidades em boa parte de sua superfície, metamorfoseada como a lua cheia e apaixonada.

Surgindo pequenas crateras no tecido capilar e na massa óssea que cobria a base de sua cabeça, capacete ariano, de onde gostaria suas ideias mais avançadas.

O jardim coberto de musgo do tecido placentário era sua manta que o cobriria nos dias em que viriam com as noites mais frias, com mulheres que cuspiriam em seu orgulho, que rasgariam seu coração com uma tesoura cega, que fariam do mundo idealizado do feto devastado, uma história de terror em que ele seria a vítima, e não o protagonista misterioso e atormentando.

Seus olhos manchados de sangue e pus olhavam o espelho da realidade, a fria e estreita maca dos aleijados pela vida capital, vertendo à sombra ignóbil da redenção das mãos que o colocaram diante da luz artificial da sala de nascimento, dedilhando os acordes da misteriosa música dos dançarinos surdos.

Abril é cruel e doce, missa negra, Sabbath profanador, luz divina, amor róseo, ele corteja, ainda feto, uma adoração feita para dois senhores distintos, um ao lado direito, e outro, ao lado esquerdo, enquanto a sua memória não passava de um jogo superficial no apagão das sinapses, para distrair os dominadores deste mundo estéril, hienas se arrebentando de rir no umbigo do deserto.

Marta gosta desta mensagem

Comentários

Marta
Muita coisa nessa história hummm
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